Rio da Prata: Entradas e Saídas.
A História dos inícios da configuração colonial do Rio da Prata pode resultar um pouco confusa pela quantidade de tentativas que o império espanhol fez para adentrar neste território, tomar posse e passar a dominá-lo.
A maior parte das explorações de descobrimento territorial e conquista das populações na América foi feita pelos colonizadores incursionando pelos cursos de água. Rios levavam às populações nativas que, geralmente, habitavam próximas a esses. Ao mesmo tempo, constituem trilhas que guiavam o adentramento nos territórios ignotos. No Rio da Prata, que na verdade são três grandes rios, o Paraguai, Paraná e Uruguai, esses caminhos de água também foram as vias naturais para as explorações de conquista e colonização.
Mas esse processo colonizador, particularmente no Prata, foi feito não somente de fora pra dentro, como no resto da América, mas também de dentro pra fora. O que faz com que essa História, logo nos seus primórdios, seja bastante singular, como também será nos dois séculos posteriores.
O processo de conhecimento e colonização pode ser compreendido a partir de dois movimentos de explorações e fundações: um que se dá de fora para dentro do continente e que se inicia a partir do porto de Buenos Aires; e outro de dentro para fora, tendo como sede matriz a cidade de Asunción, também seja conhecida como “Madre de ciudades”, pois muitas dessas primeiras cidades desse eixo colonial foram fundadas por habitantes de Asunción.
De fora pra dentro
Na segunda década após o “descobrimento” da América, a pressa por avançar na exploração e conhecimento de novos territórios se intensifica, seja por questões geopolíticas de expandir os domínios imperiais, pois quem chegasse primeiro poderia reclamar para si os territórios descobertos , como também por algo que justificava e promovia essas explorações: a motivação original de encontrar um caminho alternativo para as Índias. Sabemos que o descobrimento da América foi tanto um acidente, um tropeço marítimo, e que o nome que foi dado para as pessoas que habitavam nela um erro: índios.
Equívocos e erros a parte, os “descobridores” continuaram, insistentemente, a procurar um caminho que, por ventura, atravessasse ou contornasse essa ilha que só aumentava de tamanho, a América do Sul, e que pudesse levá-los às Índias Orientais, ao encontro das especiarias e outras riquezas que tanto tinham motivado a procura de um caminho alternativo para elas.
Isso levou os Reis Ibéricos, da Espanha e Portugal, e depois de outros reinos, durante a primeira metade do século XVI, a lançar, nos extensos oceanos, armadas ou comboios de navios financiados pelos exploradores ou grupos particulares atrelados a eles. Com relação a isso cabe lembrar que, com as novas descobertas além mar, houve uma grande afluência de capitais privados para a Península Ibérica, de poderosos grupos alemães e italianos, em muitos casos de origem protestante e judaica, mas para os quais sua verdadeira devoção era o acúmulo de capitais. Em boa parte, são esses grupos, nalguns casos de fé contrária ou diversa dos ibéricos, que vão financiar a conquista católica dos novos mundos. Não deixa de ser uma ironia, mas os grandes capitais na História não ligam muito para identidades religiosas ou de outro tipo, o que importa é estar presente nos grandes negócios mundiais. Assim se dá início ao que se conhece como economia global ou globalizada.
Dentre esses primeiros exploradores, temos um elenco diversificado de navegantes sob a ordens do Império Espanhol, o qual, desde o início, apelou para contratar estrangeiros no comando das suas expedições exploratórias. Em parte porque não tinham desenvolvido comandantes tão bem treinados quanto os portugueses e genoveses, por exemplo. Esse foi o caso do seu primeiro grande comandante, Cristóvão Colombo, genovês, mas também Magalhães, português, que passou a se chamar Magallanes e do Giovani Caboto, que era genovês mas naturalizado em Venécia e depois radicado em Bristol, na Inglaterra, onde depois do seus fracassos ao serviço da Espanha, se torna um dos fundadores do poder marítimo do nascente império marítimo da Inglaterra. Os outros exploradores, que também foram denominados pelo cargo de Adelantados da Coroa espanhola, foram espanhóis com trajetórias e experiências inusitadas, como a do Cabeza de Vaca que antes de vir para a América meridional perambulou pela septentrional atravessando-a quase toda desde a Flórida até a Califórnia para chegar finalmente ao México. Não menos significativo foram Pedro de Mendoza, pertencente a uma das famílias mais ricas da Espanha cujos insucessos são quixotescos, e o primeiro deles, o piloto maior de Fernando de Aragão: Juan de Solis, que fez várias viagens exploratórias, mas acabou sendo massacrado pelos nativos.