Desencontro
O momento derradeiro desta História que denominamos “ O Desencontro” que foi marcado por um final relativamente abrupto e inesperado como foi a expulsão dos Jesuítas da Paraquaria e depois de todas suas províncias espalhadas pelo mundo.
Mas antes é preciso conhecer como foram importantes as denominadas “Milícias Guaranis”, primeiro; para a autodefesa das reduções, segundo; para os governos das principais cidades coloniais do Prata e as revoltas que nelas se davam e terceiro; para a Monarquia Espanhola manter protegido seu território, em especial o adjacente ao Andes, onde se encontrava uma das suas principais fontes de riqueza O Cerro de Prata de Potosí.
Há quem diga que, sem as Milícias, esse projeto não teria sido possível e talvez tenha razão, pois a Paraquaria foi por muitas vezes atacada, em especial no início da sua formação. Seu florescimento não teria sido possível sem o respeito que geravam seus corpos militares, compostos por destras cavalarias e infantarias. Só não conseguiram fazer frente aos impérios que dividem esta região ou “pays” com mais um tratado de fronteira e se apropriam do projeto, seja porque os jesuítas não os motivaram ou ordenaram a não resistir.
Por isso podemos afirmar que este projeto, seu início, só foi possível num espaço de fronteira, e se tornou uma fronteira entre impérios coloniais, acaba sendo destruído pela mesma fronteira que tanto tinha defendido.
Se os primórdios da Paraquaria estavam marcados pelo espírito renascentista, um tempo de utopias, a sua destruição é contemporânea do espirito iluminista, cuja razão também se torna uma razão de estado, em especial do monárquico e autoritário, no qual estarão presente os déspotas esclarecidos.
Esse iluminismo tende a ter o liberalismo e o individualismo como
pauta de governo, ainda que apresentasse tendências coletivistas. A Revolução
Francesa será o desfecho da radicalização e confronto dessas tendências. O que
se tinha na Paraquaria era um coletivismo, ainda que teocrático, pois é
impossível pensar numa sociedade sem ideologias, o problema são os resultados.
Enquanto a Europa se debatia em crises por aqui,
na Paraquaria, estava indo tudo bem, até bem demais, e talvez seja esse acúmulo
de riqueza coletiva que foi o maior atrator para sua destruição. O modelo da
Paraquaria não cabia nesse mundo, local e global, que a modernidade acabou por
implantar. Esse laboratório social que jesuítas e guaranis construíram não foi
uma utopia, uma realidade vivida da qual só nos restam ruinas, já sua
continuidade talvez sim fosse um utopos.