Convívio
No segundo momento, que denominamos “O Convívio”, conheceremos o processo da instalação do que foi essa “fronteira humana” entre os dois impérios ibéricos com o estabelecimento dos “Trinta Povos”; sua organização política e administrativa que permitia que em cada redução houvessem milhares de guaranis e apenas dois jesuítas.
As redes de caminhos de terra e água da Paraquaria, que permitiam manter uma excelente rede de apoio entre elas, seja com relação a mantimentos ou a sua autodefesa.
Mergulhar na vida cotidiana de uma redução e perceber como, mesmo com uma vida regrada, para não dizer cronometrada, pois tinham horário até para ter relações sexuais, o engajamento dos indígenas só podia ser voluntário e agradável.
Do contrário, poderiam voltar para as florestas, como de fato alguns voltaram.
Para “encantar” os guaranis, primeiro os jesuítas tiveram que ser muito tolerantes com os costumes deles, para aos poucos irem fixando as práticas cristas.
Uma prática que custou muito a ser negociada foi a do matrimônio e os jesuítas tiveram que ser tolerantes com os guaranis, em especial com os caciques aos quais era permitido ter várias mulheres. Com essa medida eram convidados para permanecer na redução ajudando a governar suas comunidades originais.
Terra. As terras era dividas em dois tipos, o amabae, que eram parcelas para serem exploradas individualmente por uma família, e o tupambae onde o trabalho era comunal e a produção socializada e os excedentes comercializados fora da Paraquaria.
O consumo de carne bovina foi fundamental para a fixação dos guaranis nas reduções. Para isso foram criadas as vacarias que eram extensões imensas de pastos naturais onde o gado era criado de forma selvagem. Depois era juntado nas estancias para ser aproveitado e consumido nas reduções. A fartura desse produto contribui muito para uma alimentação farta nas reduções. Com o fim da Paraquaria, segundo consta nos documentos da época ficaram mais de um milhão de cabeças de gado espalhadas pelas pradarias. Talvez isso explique que e o consumo de carne na região seja alto, entre os gaúchos ou gaúchos, que viram povoar a região.
Uma das práticas que mais contribuíram para o “encantamento” dos guaranis foi a música. O cotidiano de uma redução estava sonorizado quase sempre. Se acordava com música, se ia para o trabalho e se trabalha com música. Aos sábados se preparavam as festas dos domingos que consistiam em desfiles religiosos e das milícias, cerimónias políticas e de casamentos coletivos, ao som da música interpretada por exímios instrumentistas de violinos e flautas, entre outros instrumentos, fabricados por eles mesmos.
Além disso, as esculturas de madeira foram fundamentais para construir o imaginário jesuítico-guarani, ao qual se tem denominado de Barroco Missioneiro.
São inúmeras as curiosidades que revelam o cotidiano reducional e muitas as páginas que que certamente teremos que preencher para dar conta dos detalhes, paradoxos e causos engraçados como daquele guarani que, bêbado numa noite tranquila, da redução ao invés de dizer “Viva Jesus Cristo”, vociferava “Viva Jesu Frito”. Aos aos jesuítas encarregados da redução não restava mais que dar risadas.