Encontro

O primeiro momento que denominamos o Encontro, trata dos principais grupos que se deparam nesta região do Alto Prata, e mais especificamente do alto Paraná.  Para isso é explicitada a origem e as trajetórias de cada de um deles e finalmente a conjuntura em dirimem seus conflitos assim como estabelecem as respectivas alianças de acordo com interesses mútuos ainda que temporários.  

Os Guarani são por natureza e por cultura uma sociedade sem estado e por um longo período “contra o estado”. Ao mesmo tempo por serem uma sociedade em movimento, seu território era indefinido. Seus limites eram os dos ecossistemas e as fronteiras as da sua língua.

Uma cultura configurada a partir de uma paisagem e da fartura das altas bacias hidrográficas do Rio da Prata e dos sonhos que nela eram possíveis. Entres esses sonhos se destaca o mito da “Terra sem males” (Yvy marã e’ỹ), um paraíso não no além, mas no aquém. Também se destaca sua filosofia política contra o autoritarismo, mas a favor da uma liderança lúcida que visava o “melhor para todos” se isso é possível.

A Companhia de Jesus foi a última das grandes congregações de católicos a ser constituída. Justamente no período de transição da idade média ao que passamos conhecer como Idade moderna. A essa transição costuma-se denominar de Renascimento. 

Eles eram considerados os chamados a salvar a Igreja Católica Romana, em especial de si mesma, mas também de outras interpretações das sagradas escrituras e, portanto, de práticas, como as praticadas pelos protestantes e de crenças como as que os mouros ou os judeus seguiam.

Nesse cenário, no mesmo ano que Colombo chega na América, nasce o líder daqueles que foram conhecidos como confessores de reis e educadores das cortes europeias católicas, Ignácio de Loiola. Um filho do seu tempo, que é o das Utopias de Thomas Morus, do Campanella, da republica de Platão reinterpretada e também do Erasmo, Maquiavel, Copérnico, Miguel Ângelo.

Mas também de sociedades com uma grande concentração de riquezas como eram as monarquias e grupos mercantis que percebem nas novas trocas continentais uma plataforma inédita para enriquecimento. O resto são comunidades rurais, que em condições miseráveis vivem de igual modo há mais de mil anos.

Para todos esses homens a descoberta e conquista da América foi uma razão material e ideal de transformação.

Com esse espirito os jesuítas se sentem chamados a evangelizar o planeta, e para isso dispõem do Império onde o sol nunca se põe e para onde partem a cumprir sua missão. Esse império pertence aos Habsburgo, casa dinástica de Castela, que por 60 anos (1580-1640), também possui a Coroa de Portugal sob um mesmo cetro.

Por tentar atuar em diversos pontos desse vasto império, podemos considerar a Ordem da Companhia de Jesus como uma verdadeira multinacional no início da globalização.

O grande diferencial destes personagens é que eram uma mistura de teoria e prática, sob uma disciplina férrea aprendida nos exercícios espirituais do Loiola.  Baudrillard, filosofo francês atual, diz que se esses jesuítas ainda estivessem por aí, seriam os equivalentes aos grandes intelectuais da nossa contemporaneidade.              

Além de guaranis e jesuítas, participavam da trama histórica que se deu na Paraquaria os súditos das duas coroas que aqui fazem fronteira. De um lado, os paulistas, posteriormente denominados como bandeirantes e do outro, asuncenhos e guayrenhos, conhecidos como encomenderos. Os primeiros praticavam a preação, os segundos a encomienda. Duas práticas com a mesma finalidade: escravizar “os negros da terra”, como também foram denominados os índios.

Todos esses grupos, além de outras parcialidades indígenas que resistiam a serem conquistados, os irredutíveis, fizeram da região do Guayrá um verdadeiro barril de pólvora cuja explosão gerou um dos maiores êxodos coloniais que se tem notícia.

Ao mesmo tempo, esse processo possibilitou algo inédito na História do Prata ao permitir que os indígenas pudessem usar armas de fogo para sua defesa em nome do Rei. O que vai permitir aos guaranis liderados pelos jesuítas construir um fronteira não somente entre os impérios coloniais, mas entre modos de compreender de ser e estar em sociedade, onde a individualidade, a não ser a do Rei e de Deus, não estaria acima da coletividade.

Um rei que nunca viram, um deus que na maioria de vezes resignificaram. Eles acreditavam estar construindo um paraíso na terra, uma “ Terra sem Males”….e quase que o conseguiram!.